Hoje vou introduzir o que é Terapia Cognitivo Comportamental através da experiência do psiquiatra David Burns, um dos psiquiatras mais respeitados no assunto. Antes do David Burns se tornar o psiquiatra que ele é hoje, ele pesquisava sobre psiquiatria biológica, uma linha de pesquisa que tinha como base que as doenças mentais são originadas por um desequilíbrio na bioquímica do cérebro e portanto o tratamento era baseado apenas em remédios. Ele andava frustrado com a pesquisa porque tinha a percepção que só os remédios não estavam curando seus pacientes e que ajudava muita pouca gente. Até que ele ouviu falar sobre uma nova linha de pesquisa, a terapia cognitiva. Existem 3 ideias básicas por trás da terapia cognitiva. A primeira delas é que nossos pensamentos criam o nosso estado de espírito. Quando você está deprimido ou ansioso você manda para si mesmo mensagens negativas. Você se culpa, você diz a si mesmo que algo terrível irá acontecer. As pessoas não são perturbadas pelos acontecimentos da vida, mas pela maneira que enxergam esses acontecimentos, por suas interpretações, criam emoções positivas ou negativas. A segunda ideia é que quando você está deprimido e ansioso, os pensamentos como "Eu sou inútil", "Não sou bom o suficiente", "O que tem de errado comigo?", "Eu estraguei tudo" não são realistas, são distorcidos. E a terceira ideia é que as pessoas podem ser treinadas a mudarem o modo de pensar e então mudarem como se sentem. Quando ele ouviu tudo isso achou um absurdo, mas ainda assim foi participar dos seminários de Aaron Beck justamente pra testar em seus pacientes e provar que tudo isso era uma baboseira. A primeira paciente foi a Martha, uma mulher idosa, imigrante, levada pra UTI por uma tentativa quase bem sucedida de suicídio. Ele pediu permissão a ela pra tentar essa nova forma de terapia e levar o caso dela semanalmente para o seminário de Beck onde lá pensariam juntos no que fazer. Na primeira semana ele levou o caso de Martha e perguntou como se aplica a técnica com uma pessoa suicida. Aaron disse: — Nossos pensamentos criam nossas emoções então pergunte a ela "O que você dizia a si mesmo no momento que tentou cometer suicídio?" Então Burns ao reencontrar com a paciente lhe fez a pergunta. Ela respondeu: — Ah, eu dizia que eu sou uma pessoa inútil porque nunca conquistei algo relevante na minha vida. O que eu devo fazer sobre isso? — Eu não sei ao certo. Você deve aguardar uma semana. Imagina a ansiedade da Martha nesse momento? 🥺 Voltando ao seminário Burns compartilhou com Beck e ele disse que uma das técnicas usadas se chama "Exame de evidências", peça pra que ela veja se o que ela está dizendo pra si é verdade ou não. Peça pra que ela faça uma lista de todas as coisas que ela conquistou. Foi o que Burns fez no atendimento seguinte com a paciente. Ela disse que o problema era justamente esse, ela não conseguia pensar em nada! Ela ficou com a lição de casa de construir essa lista e mostrar a Burns na próxima sessão. Na sessão seguinte ela trouxe uma lista com uns 8 itens e disse: — Eu tinha subestimado o fato de que eu fugi com meus filhos da Alemanha nazista. Meu marido e parentes morreram em campos de concentração e eu consegui fugir com meus filhos para os Estados Unidos. Eu trabalhei esfregando chão e limpando a casa dos outros para que tivéssemos comida e um teto sobre nossas cabeças. E essa semana meu filho se graduou como o melhor da turma na faculdade de administração em Harvard. E eu esqueci que falo 5 idiomas fluentemente e sou uma chefe gourmet. Quanta coisa incrível, não é mesmo? A paciente voltou a sentir-se bem novamente. Pra finalizar, Burns deu um exemplo da sua própria vida. Ele relata que foi colocado a prova quando o filho dele nasceu porque o bebê embora saudável, não conseguia respirar, e foi preciso levá-lo a UTI. Burns foi pra casa desesperado, deprimido e ansioso, e começou um monólogo com si mesmo. — Lembre-se que não é o acontecimento, são seus pensamentos que o chateiam — Ah não! Não pode ser verdade. Isso é real! — É isso que os seus pacientes dizem. Por que não escreve seus pensamentos e vê se existem distorções neles? O primeiro pensamento era: 1. Meu filho precisa de oxigênio para seu cérebro, e ele terá danos cerebrais; 2. Vamos levá-lo a clínicas para o resto da sua vida; 3. Então as pessoas vão me desprezar por ter um filho com deficiência mental. Burns percebeu que o primeiro pensamento se encaixa no pensamento distorcido chamado Adivinhação e pensou "Bem, eu não sei se meu filho terá danos cerebrais. O médico nunca disse isso". Então ele continuou quebrando seus pensamentos e então sua ansiedade parou naquele instante. Um exemplo simples pode ser a seguinte situação: As pessoas estão olhando para Antoni e Pedro. Antoni pensa que as pessoas olham pra ele porque ele está bonito. Já o Pedro pensa "Algo só pode estar errado comigo". Para Pedro não foi o acontecimento (as pessoas olhando para ele) que o fez sentir-se mal, mas sim a sua interpretação desse acontecimento. Por enquanto é só. Nas próximas atividades vamos nos aprofundando no assunto, ok? Até já! .